sexta-feira, 25 de julho de 2014

Estatísticas de Guerra

por Diney Lenon de Paulo

Quando tinha aulas de estatística na faculdade, aprendi com o professor Schio que as estatísticas, apesar de serem do campo das exatas, não eram tão exatas assim. Isso hoje me fez pensar na frieza das estatísticas no coração e na mente humana. Me fez pensar no gelo das relações egoístas e individualistas com o mundo, com o “outro”.
O que são 4 pessoas, 21 pessoas, 74 pessoas, 165 pessoas, 340 pessoas, 600 pessoas, 802 pessoas, sendo delas 100, 200 crianças? Ufa! Essas estatísticas são cansativas, muitos números! O que são? Estatísticas na frieza da alma, são apagões de consciência. As crianças são estatísticas dentro das estatísticas.
E os feridos? Números maiores, de maior desprezo, menor compaixão, afinal, o que conta mesmo são as “estatísticas da morte”. Se são 2 mil, 3 mil, 6 mil, 10 mil menor a profundidade de análise das estatísticas. Raras são as estatísticas por menorizadas quanto aos “feridos”. Ferido é ferido e pronto, não compliquem as estatísticas!
Uma quantidade que ainda é maior de números para as estatísticas são os “desabrigados”. Esses chegam à casa das centenas de milhar.

Absurdamente, no estudo das “estatísticas de guerra”, quanto maior são os números, menor “encanto” oferecem para nossos lapsos de consciência.
As estatísticas da morte não são exatas! Não são exatas porque não consideram as “variantes”, os detalhes da vida que nos fazem seres únicos no universo.

Quem irá contar o sentimentos de medo antes de dormir? Quem irá arrematar para o mundo das estatísticas a solidão do pó do chão de gente por todos os cantos bombardeados? Quem poderá mensurar os choros de mães, lágrimas de filhos, sonhos com os pais e irmãos que não voltarão? Há contagem para os que perderam 1 dedo? E para os que perderam 2 dedos? Braços, pernas, visão, audição?

Uma vez li em algum lugar uma estatística sobre os transtornos do sono em Gaza, uma pesquisa feita com crianças. Algo assustador, mas o conceito “assustador” não cabe ao estudo das “estatísticas de guerra”, seria muito subjetivismo.
Queria ler ou ver algo sobre “estatísticas da alma”.
As estatísticas de guerra não são exatas. As almas dilaceradas não são exatas.
Quantas pedras levantou? Quantas torturas sofreu? Quantas prisões arbitrárias? Estatísticas da Primeira Intifada, da Segunda Intifada? Novamente as estatísticas...
Quero ver estatística de guerra falando da morte do sonho de uma criança, um jovem. Quero ver estatística de guerra analisando  sentimentos de um povo enclausurado, discriminado, colonizado e exterminado. Que sentimento único não merece a atenção das estatísticas?
Estatística de guerra apresenta algo sobre check-point? Quilômetros de muro vezes altura igual a? Casas demolidas deve haver alguma estatística, mas de bonecas perdidas duvido!

As estatísticas de guerra não são exatas. Meu professor Schio estava certo!




quarta-feira, 23 de julho de 2014

Palestina pede proteção na ONU

Riyad Mansour, observador permanente da Palestina junto às Nações Unidas. Foto: UNTV/reprodução
“Não somos números. Somos seres humanos”, disse Riyad Mansour, observador permanente da Palestina junto às Nações Unidas, em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre as mortes em Gaza. O vice-representante de Israel na ONU, David Yitshak Roet, disse que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, deveria “dissolver a unidade de governo” da Palestina.
“Estes são os rostos humanos de nossas vítimas”, acrescentou Mansour, mostrando fotos das crianças palestinas mortas e feridas no conflito – até esta quarta-feira (23), mais de 160 crianças palestinas haviam sido assassinadas, com pelo menos 1.100 feridas, segundo o UNICEF.
Por videoconferência, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon – que está visitando diversos países na região –, afirmou: “Um cessar-fogo é essencial, mas se não enfrentarmos as questões mais profundas, nós nunca resolveremos o problema. Nós só iremos postergá-lo para um outro momento”.
Em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos da ONU fez uma reunião emergencial sobre o tema. A chefe de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, alertou para potenciais crimes de guerra e contra a humanidade que estão sendo cometidos.

Comandante Chávez chama Presidente dos EUA e de Israel de assassinos

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Mujica e seu grande amor revolucionário


Uma bela história onde o amor sobreviveu à Ditadura


Os caminhos de Lucía Topolansky e José Mujica, senadora e presidente do Uruguai, respectivamente, se cruzaram em meio à luta pela revolução, nos anos 70. O amor sobreviveu a anos de prisão política e à ditadura militar
03/07/2014
Por Victor Farinelli, da Rede LatinAmérica
Primavera de 1973. Ela não se chamava Ana, mas era assim que todos a conheciam. Ana, a guerrilheira, detida em uma prisão militar feminina, construída especialmente para mulheres tupamaras, em algum lugar desconhecido no interior do Uruguai, com uma carta na mão, que era de Emiliano, ou Ulpiano, ou seja lá qual fosse o seu verdadeiro nome.
Em junho daquele ano, o fim do MLN-T (Movimento de Liberação Nacional, também conhecido como Tupamaros), foi um dos episódios que marcou o início da ditadura uruguaia, e levou centenas de jovens revolucionários à prisão, quinze deles como reféns de guerra. Ulpiano era um deles. Se os tupamaros ainda livres voltassem a atuar, ele seria fuzilado.
Um torturador chuta as grades da cela enquanto ri jocosamente e relembra as últimas humilhações, de diferentes tipos, que a fez sofrer. Ana continua lendo a carta. Ele insiste:
- Você é a nossa preferida, bebê. Vai ficar aqui por milhares de anos.
A raiva a faz apertar o papel em suas mãos até quase rasgá-lo:
- Olha, daqui a doze anos eu vou sair daqui e viver a minha vida. Você viverá com o fantasma dessas perversões, atormentando até o dia da sua morte.
Enquanto ele aumentava o volume das gargalhadas, Ana buscava algo onde escrever uma resposta. Precisava contar sua verdade, que seu nome não era Ana, que era filha de uma família de classe média de Pocitos, bairro nobre de Montevidéu. Tinha uma irmã gêmea, tinha uma família enorme, sofria pelas saudades e pelo medo, mas não medo da morte, era o único medo que não tinha, pois lhe bastava a certeza de sair dali e para se encontrar com ele.
Dias depois, seu advogado lhe forneceu papel, caneta e a grande coincidência de suas vidas. Ele era casado com a advogada de Ulpiano. Os dois nada podiam fazer pelos dois guerrilheiros. Livrá-los da prisão em meio a uma ditadura era impensável. Mas puderam ser um casal de carteiros, trabalhando por um amor que lutava para sobreviver.
Dois prisioneiros vivendo um típico amor tupamaro. O MLN surgiu em meados dos Anos 60, fundado por um grupo de estudantes socialistas que queriam fazer a revolução no Uruguai. Diferente das guerrilhas urbanas de outros países, os tupamaros começaram a atuar antes de instalada a ditadura. A vida na clandestinidade impedia que houvesse relações fora da organização e saber o verdadeiro nome da pessoa amada. O amor deles nasceu quando ela se chamava Ana e ele Ulpiano, e não importava a verdade.
Amor que nasceu com um passo para fora da prisão. Ela, uma estudante de arquitetura com talento para a falsificação de documentos, lhe fazia uma identidade falsa, e assim se conheceram. Ana tinha um namorado que também era do MLN, se chamava Blanco Katrás, que meses depois seria capturado junto com ela. Ana só passou alguns meses na cadeia, mas Blanco seria executado pela polícia uruguaia. “Não era o primeiro namorado que eu perdia naquelas condições, e naquela altura, já tinha visto muitos outros companheiros morrerem. Não há tempo pra sentir pena quando você precisa salvar a própria pele”, pensava Ana, libertada em 1972, antes de encontrar refúgio no mesmo porão em que estava escondido Ulpiano – na época, um dos homens mais procurados do país.
A caça aos tupamaros no Uruguai passou a ser mais intensa nos Anos 70, com a ajuda dos Estados Unidos. Os tupamaros sequestraram e assassinaram um agente do FBI, em agosto de 1970 (Dan Mitrione, que anos antes esteve no Brasil, ensinando técnicas de tortura aos militares). Ulpiano era acusado de fazer parte dessa operação – que é narrada pelo filme Estado de Sítio, de Costa Gravas.
Ninguém sabe se foi aí, no ocaso do movimento tupamaro, quando viviam de porão em porão pelos bairros do centro velho de Montevidéu, que começou a história de amor de Ana e Ulpiano. “Eles passaram a andar juntos na época mais dura, quando nem sempre havia um teto. Às vezes, era preciso dormir em pântanos fora do perímetro urbano da cidade. Ninguém sabe se a relação, digamos, física, começou nessa época, mas com certeza o carinho mútuo sim”, relata Henry Engler, um ex-tupamaro, amigo pessoal de Ulpiano.
O pouco que se sabe sobre o começo da relação é que eles se tornaram imprescindíveis um para o outro nesses últimos meses do MLN, antes do fim definitivo da organização, em junho de 1973. Ambos foram presos. Ana foi levada a uma prisão de mulheres. Ulpiano virou refém, ficava numa solitária, sob ameaça de morte se algum ex-companheiro voltasse a atuar.
Tentaram trocar correspondências entre si para sobreviver, com a ajuda dos advogados-carteiros. Ela se confessou, disse que se chamava Lucía, Lucía Topolansky, e que sonhava em sair dali e encontrá-lo. Ele respondeu com sua própria revelação: “meu nome é José Alberto Mujica”.
A carta-desabafo de Pepe Mujica, ex-Ulpiano, era a mais bela carta de amor de todos os tempos, segundo as companheiras de presídio de Lucía – era toda sentimentalona, como todas as coisas do Pepe”, segundo María Elia Topolansky, irmã gêmea de Lucía, também ex-tupamara. Passou por todas as mãos e fez sucesso até entre os carcereiros – “naqueles anos, cada carta que chegava era para todas”, conta Lucía, sobre a falta de ciúmes com o bilhete.
Diz a lenda que a ternura das palavras de Mujica amoleceu as restrições que havia para correspondência entre presos, e assim eles puderam trocar mais cartas que os demais casais tupamaros separados entre prisões.
Essa situação durou exatamente os doze anos que Lucía deu de prazo ao seu torturador, até que seu amor renasceu como na primeira vez, com um passo para fora da prisão. No dia 14 de março de 1985, ela e a irmã gêmea saíram da cadeira e foram para a enorme casa da família – no mesmo dia em que Pepe foi libertado, depois de onze anos na solitária, “conversando com os ratos e agarrado na esperança” segundo ele mesmo. “No dia seguinte, Lucía foi embora, foi morar com o Pepe, e nunca mais voltou”, conta María Elia Topolansky.
Desde então, vivem juntos em uma chácara de um bairro de classe baixa, na periferia de Montevidéu. Começaram criando flores e vendendo no mercado municipal, mas sem esquecer os ideais políticos. Pepe se candidatou e se elegeu deputado em 1995. Em 2000, ele passou a ser senador, e Lucía deputada. Em 2005, ela se elegeu senadora, e nesse mesmo momento, trinta anos depois do começo da relação, vinte anos depois de começarem a viver juntos, decidiram formalizar o matrimônio. Cinco anos antes de Pepe assumir como presidente do Uruguai.
*************************
Cartaz feito pela Ditadura Uruguaia perseguindo Lúcia, ou Ana, a Guerrilheira
A melhor forma de mergulhar na história de amor de Pepe Mujica e Lucía Topolansky, e também na história dos Tupamaros, é mergulhar na história dela. Por isso os jornalistas e historiadores uruguaios Nelson Caula e Alberto Silva escreveram o livro Ana, La Guerrillera, que traz detalhes de tudo o que se contou neste tópico e muito mais episódios sobre a criação do MLN, a vida na clandestinidade e a disputa política que levou o Uruguai à sua mais recente ditadura.

Fonte: Jornal Brasil de Fato: www.brasildefato.com.br 

Restos da Ditadura. Despejo de Sem Terra à margem da lei


Resquícios da Ditadura Cívico-Militar podem ser percebidos em ações como essas perpetuadas por instituições públicas

Segundo o porta-voz do movimento, Luciano Carvalho, a guarda municipal não possuía ordem judicial. "Eles ainda destruíram telhas, madeiras e levaram alguns objetos pessoais das famílias", disse.
Com o despejo, os sem-teto marcharam até a praça central no bairro Alto da Colina, onde foi realizado um almoço coletivo. Logo em seguida, fizeram a assembleia, onde foi colocado como prioridade o diálogo com a comunidade.
Ainda segundo Luciano, o prefeito de Itapevi, Jaci Tadeu, na última audiência com o movimento, em outubro do ano passado, prometeu agir dentro da legalidade. Porém, na primeira oportunidade que teve, tratou os acampados na ilegalidade, despejando-os sem ordem judicial. "O terreno pertencia a um grileiro e possuía uma dívida de R$ 700 mil" concluiu.
A comunidade está sendo prestativa e está recebendo a ocupação, inclusive com a doação de alimentos. Morador do bairro, Daniel Franco, acha o movimento legítimo e apoia os sem-teto. "Acho importante ocupar os espaços que não são utilizados para fins produtivos", pontuou.
Início
Desde a ocupação em que deu origem ao acampamento Padre João Carlos Pacchin, em agosto do ano passado, se estabeleceu uma batalha política e jurídica para a permanência das mais de 350 famílias na área. Nessa época, o MST deu início ao processo de organização da sua segunda Comuna Urbana, a partir da ocupação de dois terrenos contíguos, localizados também em Itapevi.
Em 18 de novembro, houve a reintegração de posse de um dos terrenos, o que restringiu o número de famílias acampadas a apenas cem famílias, devido ao tamanho reduzido da área restante.
Em 11 de dezembro, a justiça deu ganho de causa ao proprietário do terreno remanescente. Para denunciar essa situação, foram realizados atos políticos em maio desse ano.
Com a iminência do despejo, as famílias decidiram então reorganizar o acampamento em nova área, para continuar lutando pelo cumprimento da função social das terras urbanas ocupadas - projetos habitacionais socioambientais, que atendam às necessidades das famílias acampadas, através da garantia de moradias dignas.

Fonte: www.brasildefato.com.br (Esse jornal é muito indicado para estudantes e cidadãos que buscam uma mídia alternativa).