por Diney Lenon de Paulo
Quando tinha aulas de estatística na faculdade, aprendi com o professor Schio que as estatísticas, apesar de serem do campo das exatas, não eram tão exatas assim. Isso hoje me fez pensar na frieza das estatísticas no coração e na mente humana. Me fez pensar no gelo das relações egoístas e individualistas com o mundo, com o “outro”.
O que são 4 pessoas, 21 pessoas, 74
pessoas, 165 pessoas, 340 pessoas, 600 pessoas, 802 pessoas, sendo delas 100,
200 crianças? Ufa! Essas estatísticas são cansativas, muitos números! O que
são? Estatísticas na frieza da alma, são apagões de consciência. As crianças
são estatísticas dentro das estatísticas.
E os feridos? Números maiores, de
maior desprezo, menor compaixão, afinal, o que conta mesmo são as “estatísticas
da morte”. Se são 2 mil, 3 mil, 6 mil, 10 mil menor a profundidade de análise
das estatísticas. Raras são as estatísticas por menorizadas quanto aos “feridos”.
Ferido é ferido e pronto, não compliquem as estatísticas!
Uma quantidade que ainda é maior
de números para as estatísticas são os “desabrigados”. Esses chegam à casa das
centenas de milhar.
Absurdamente, no estudo das “estatísticas de guerra”, quanto maior são os números, menor “encanto” oferecem para nossos lapsos de consciência.
As estatísticas da morte não são
exatas! Não são exatas porque não consideram as “variantes”, os detalhes da
vida que nos fazem seres únicos no universo.
Quem irá contar o sentimentos de medo antes de dormir? Quem irá arrematar para o mundo das estatísticas a solidão do pó do chão de gente por todos os cantos bombardeados? Quem poderá mensurar os choros de mães, lágrimas de filhos, sonhos com os pais e irmãos que não voltarão? Há contagem para os que perderam 1 dedo? E para os que perderam 2 dedos? Braços, pernas, visão, audição?
Uma vez li em algum lugar uma estatística sobre os transtornos do sono em Gaza, uma pesquisa feita com crianças. Algo assustador, mas o conceito “assustador” não cabe ao estudo das “estatísticas de guerra”, seria muito subjetivismo.
Queria ler ou ver algo sobre “estatísticas
da alma”.
As estatísticas de guerra não são
exatas. As almas dilaceradas não são exatas.
Quantas pedras levantou? Quantas
torturas sofreu? Quantas prisões arbitrárias? Estatísticas da Primeira
Intifada, da Segunda Intifada? Novamente as estatísticas...
Quero ver estatística de guerra
falando da morte do sonho de uma criança, um jovem. Quero ver estatística de
guerra analisando sentimentos de um povo
enclausurado, discriminado, colonizado e exterminado. Que sentimento único não
merece a atenção das estatísticas?
Estatística de guerra apresenta
algo sobre check-point? Quilômetros de muro vezes altura igual a? Casas
demolidas deve haver alguma estatística, mas de bonecas perdidas duvido!
As estatísticas de guerra não são
exatas. Meu professor Schio estava certo!
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